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22 de fevereiro de 2017Esta semana ocorreu o segundo workshop do Vale do Pinhão patrocinado pela prefeitura e pelo IBQP. Muito tem se falado sobre a ideia de se seguir em Curitiba de alguma forma o modelo ora iniciado pelo Vale do Silício, ou Silicon Valley, seu nome original.
Silicon Valley sempre foi uma região com localização estratégica, com infraestrutura adequada e universidade de ponta, permitindo que ela se tornasse o que é hoje. Stanford teve um papel importante no seu desenvolvimento, como fonte de inovação, pesquisas e colaboração na formação de muitas empresas na região.
Em 1939 os alunos de Stanford, David Packard e William Hewlett formaram uma pequena empresa de eletrônicos em uma garagem em Palo Alto. Existe uma corrente que diz que esta garagem foi o “local de nascimento de Silicon Valley”.
Em 1947, o professor William W. Hansen inventou um protótipo de acelerador linear eletrônico, e nos anos seguintes construiu um Laboratório de Microondas. Em 1951, a Varian Associates construiu um laboratório de pesquisa e desenvolvimento à beira do campus que se tornaria o Stanford Research Park.
Porém, foi em junho de 1957, numa reunião secreta de oito cientistas e engenheiros em um hotel em São Francisco que trabalhavam há quatorze meses no Laboratório de semicondutores Shockley em Palo Alto, que se rebelaram contra uma forma de gestão tradicional, já sendo um embrião da forma de gestão que se vê hoje na região. O compromisso firmado por eles está registrado na assinatura por todos em uma nota de um dolar. Robert Noyce, seu lider e inventor do transistor, acreditava que o silício era melhor que o germanium para circuitos integrados. Ele e Gordon Moore, 11 anos depois fundaram a Intel. O resto é história.
Particularmente, prefiro esta versão como a do nascimento de Silicon Valley, apelidada assim por Hoefler, um jornalista que escreveu um artigo sobre a indústria de semicondutores para Eletronic News em janeiro de 1971.
Bem, e o nosso Vale do Pinhão? Curitiba tem vocação para tal? Qual a lição que podemos retirar da história da região considerada de maior inovação e empreendedora do mundo, ainda berço de dois Prêmios Nobel?
Ora, infraestrutura, forte academia voltada a pesquisa, regulamentação favorável e cultura empreendedora são exemplos que saltam aos olhos num primeiro momento. Curitiba sempre teve a vocação de exemplo em nosso país, lançando novos modelos de urbanismo – muitos implantados pelo Rafael Greca, nosso atual prefeito – universidades importantes e atuantes em pesquisa e empresas em busca constante da inovação e tecnologia.
Os planos do Vale do Pinhão são aparentemente audaciosos e começaram atacando o urbanismo e infraestrutura, conectando universidades e regiões importantes. Porém os desafios são enormes. Se nos debruçarmos no índice de cidades empreendedoras de 2016 (Endeavor), podemos ver que estamos em 15º lugar, após cair sete posições em relação ao ano anterior. Ambiente Regulatório, Mercado, Infraestrutura, Capital Humano e Cultura Empreendedora são os pilares avaliados.
Estamos em grande desvantagem no ambiente regulatório (penúltimo lugar). No primeiro workshop foi mencionado que o tempo de processos municipais será desburocratizado para ser reduzido numa abertura de empresa. Hoje se leva 145 dias, sendo Uberlândia a campeã com 52 dias, além das obrigações acessórias municipais que têm muito a melhorar. Ou seja, independentemente da regulação federal, muito pode ser feito em âmbito municipal.
Outra forma que a prefeitura pode atuar neste pilar é na redução de ISS para empresas da economia criativa e de tecnologia. Não pode ser privilégio da empresa que estiver dentro da área do “pinhão”. Ora, a isenção de ISS para empresas novas por prazo definido pode ajudá-las a deslanchar. Normalmente o empreendedor tem boas ideias, mas poucos recursos. Quem lança uma startup, normalmente tem de 20 a 30 mil reais num ano para fazer as coisas acontecerem. Cinco por cento é uma fortuna neste cenário.
Outra isenção de ISS que poderia existir é exclusivamente na emissão de notas fiscais para estas startups dos coworkings que estão no SIMPLES Nacional. Isto ajudaria a dar descontos para que elas estejam em ambientes onde existam empresas que já passaram por esta fase e que possam ser exemplos para aqueles que estão começando agora. Isto poderia ser estendido a outros fornecedores, que significa redução de custos e provavelmente preços, contribuindo também no pilar Mercado.
Nesta mesma linha, coworkings, aceleradoras e incubadoras poderiam obter reduções no IPTU para baratear esta travessia de crescimento.
Mas como lidar com esta redução de recursos? Ora, uma startup robusta em três anos consegue cobrir uma centena delas em valores renunciados, veja o Ebanx ou a Contabilizei, por exemplo; além de provocar uma atração para nosso município.
Já no pilar de Infraestrutura, estamos melhor: em 8º lugar, porém atrás de Joinville e Blumenau, polos tecnológicos mais próximos de nosso município, ou até das paranaenses Maringá e Londrina. A proposta de infraestrutura do Vale do Pinhão tem diversas qualidades. A sugestão aqui é acrescentar um pensamento mais abrangente, como por exemplo, ter na conexão destes polos de inovação estações de bicicleta gratuita ou car sharing com carros elétricos, que podem ser viabilizados por patrocínio.
No pilar Capital Humano está contemplada a educação. A integração urbana das universidades não é suficiente para expansão de conhecimento e inovação. É importante que seus objetivos sejam integrados também, tendo o município como facilitador deste processo.
Adicionalmente, o município pode atuar na educação básica. Mostrar aos jovens que o empreendedorismo e a inovação podem ser para qualquer um e não precisa ser plano B. Pode perfeitamente fazer parte do plano A de vida profissional.
Em que pese que o Brasil é um dos países “mais empreendedores do mundo”, atuar na base pode ajudar na perenidade, qualidade e tamanho de impacto obtido por estas novas empresas, cuja maioria não passa do segundo ano de vida.
Ainda sob o viés da educação, a criação de programas em conjunto com organizações da sociedade para despertar o gosto da ciência pelo jovem, por exemplo, à luz de como é feita pela Engenieria a la N, em Medellin, Colombia.
A educação para o empreendedorismo também ajudaria no pilar Cultura Empreendedora, no qual nosso município é lanterna. Para mudar esta visão (e atitude) da população, o poder executivo poderia criar um prêmio da Mulher Empreendedora, por exemplo, para reconhecer e valorizar as mulheres que se aventuram em abrir um negócio de impacto, à luz do que é feito no Canadá, com o Women of Influence.
Outra forma é dividir a gestão dos novos espaços com várias organizações da nova economia. Isto daria holofote à cultura empreendedora, além de fortalecer a economia colaborativa, que veio para ficar.
Importante salientar que o poder executivo do município deveria atuar como facilitador, deixando o protagonismo para os atores sociais. Assim, o comprometimento da sociedade aumentaria e tomaria o projeto para si, evitando descontinuidade com eventuais mudanças partidárias no leme da cidade.
Mas nem tudo são flores em Silicon Valley. Aluguel de um dormitório em Cupertino, próximo à Apple, não sai por menos de US$ 2.200 por mês; em Menlo Park, região do Facebook, US$ 2.300; em Palo Alto, U$ 2.700. Agora em San Jose, sai a pechincha de US$ 1.800, em média (!). O que acontecerá com os aluguéis na região de nosso vale? Subirão seguramente.
Assim como ocorreu a corrida do ouro no oeste americano, também ocorre a corrida “ao silício” em Silicon Valley. Entretanto, da mesma forma que a maioria dos mineradores saíram frustrados, a maioria dos empreendedores também saem frustrados e eventualmente quebrados após fazerem negócios com investidores-não-tão-anjos assim. Portanto, é importante desmistificar um pouco e utilizar pontos positivos do modelo para planejamento de nosso vale tupiniquim, com muito orgulho.
Enfim, todas estas sugestões servem como um alerta de que há muito trabalho a se fazer e que o poder executivo do município precisará de toda ajuda possível – não só financeira, mas na contribuição de ideias, gestão e mesmo na condução. No final, o importante é que seja um catalizador dos anseios de nossa comunidade e possa contribuir para traduzir estes anseios numa nova realidade de uma cidade inovadora, criativa e próspera, com a cunha do Vale do Pinhão sendo respeitado no país todo e internacionalmente, como já somos em termos de urbanismo.
Por: Marcos Tadeu Schwartz – Impact Hub Curitiba