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14/07/2025
ODS 16 III Missão Paris: Resolução de conflitos como caminho para a transformação social
07/08/2025Desde que comecei a mergulhar nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, um deles me chamou particularmente a atenção: o ODS 1, que busca “Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares”. Confesso que, à primeira vista, parece uma meta tão grandiosa que quase soa inatingível. Mas, ao explorar documentos como o “ODS-1 – Erradicação da Pobreza – Ipea – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.pdf”, percebi que, embora ambicioso, é um roteiro com metas e indicadores muito claros, tanto para o mundo quanto para países específicos como o Brasil.
Minha compreensão começou pelas metas em si. A ODS 1 não fala apenas de “pobreza”, mas a destrincha em várias camadas. A Meta 1.1, por exemplo, visa erradicar a pobreza extrema, aquela que te coloca abaixo de uma linha mínima de subsistência – para a ONU, cerca de US$2,15 por dia, mas o Brasil a adaptou para PPC$3,20, o que me parece um ajuste importante para a nossa realidade. Percebi que o objetivo é literalmente garantir que ninguém viva em condições tão precárias.
Depois, veio a Meta 1.2, que me fez refletir sobre a pobreza em suas múltiplas dimensões. Não basta ter um teto e comida; a ODS 1 quer reduzir pela metade a proporção de pessoas que vivem na pobreza, seja ela monetária ou não monetária, ou seja, considerando também a falta de acesso a serviços básicos. E isso se conecta diretamente com a Meta 1.3, que fala da importância de implementar sistemas de proteção social adequados, como um verdadeiro piso de segurança para os mais vulneráveis, garantindo que ninguém seja deixado à própria sorte.
O acesso a recursos é outro ponto crucial, abordado na Meta 1.4. De que adianta ter leis se as pessoas não têm acesso equitativo a serviços básicos, à terra para cultivar, a novas tecnologias ou mesmo a serviços financeiros como microcrédito? Essa meta busca garantir que todos, especialmente os pobres, tenham as ferramentas para construir seu próprio futuro. E, claro, a vida é cheia de imprevistos. Por isso, a Meta 1.5 é tão essencial: construir a resiliência dos mais vulneráveis a eventos extremos, como desastres climáticos ou crises econômicas. É como construir casas mais fortes para resistir à tempestade.
Para que tudo isso saia do papel, recursos são fundamentais, e é aí que entra a Meta 1.a, focada em garantir a mobilização de financiamentos robustos, tanto internos quanto por meio da cooperação internacional. Finalmente, a Meta 1.b me convenceu da necessidade de ter marcos políticos sólidos, ou seja, boas leis e instituições que sustentem e garantam a efetividade das ações de combate à pobreza.
Ao analisar essas metas, comecei a me perguntar: quem está realmente colocando a mão na massa? E foi então que me deparei com o trabalho inspirador das ONGs em diferentes partes do mundo. No Brasil, por exemplo, a Ação da Cidadania, que, com sua luta contra a fome, atua diretamente na erradicação da pobreza extrema (Meta 1.1) e no acesso a um serviço básico vital (Meta 1.4). Penso também na Gerando Falcões, que vai além da ajuda imediata, investindo em educação e capacitação profissional, o que impacta diretamente a redução da pobreza (Meta 1.2) e a garantia de acesso a recursos econômicos (Meta 1.4).
Olhando para a África, vejo o trabalho incansável da Oxfam. Eles não só fornecem ajuda humanitária em situações de crise (ligando-se à Meta 1.1), mas também apoiam pequenos agricultores para que construam seus próprios meios de subsistência (Meta 1.2 e 1.4), mostrando uma resiliência incrível diante de eventos extremos (Meta 1.5). E a Plan International, focada nos direitos das crianças e meninas, trabalha para reduzir a pobreza de geração em geração, fortalecendo a proteção social (Meta 1.3) e empoderando jovens com treinamento e microfinanças (Meta 1.4).
Minha visita ao Impact Hub Accra (Gana) me ofereceu uma perspectiva muito real sobre a luta contra a pobreza. Caminhando por suas ruas, era impossível ignorar as profundas desigualdades e a pobreza endêmica que ainda marcam o cenário da capital, com bolsões de vulnerabilidade gritantes lado a lado com o desenvolvimento. Essa realidade dura me fez questionar a grandiosidade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Contudo, foi nesse contexto que percebi a seriedade com que o país tenta enfrentar esses desafios, utilizando a ODS 1 como um roteiro.
Observei como iniciativas como o programa LEAP, de transferências de renda, buscam lançar uma rede de segurança para as famílias mais fragilizadas, um esforço visível para mitigar a pobreza mais extrema que se faz presente. O investimento em programas agrícolas como o “Planting for Food and Jobs”, mesmo com as dificuldades logísticas, reflete a tentativa de fortalecer a base da economia rural e garantir a segurança alimentar, um alicerce contra a fome que vi em muitos rostos. Além disso, a aposta em empoderar jovens empreendedores através do NEIP é uma luz de esperança contra o desemprego e a falta de oportunidades que alimentam essa pobreza, e percebi também a luta constante para expandir o acesso a serviços básicos, como água potável e saneamento, essenciais para a dignidade humana.
Na Europa, onde a pobreza muitas vezes se esconde sob a forma de exclusão social e pobreza relativa, a European Anti Poverty Network (EAPN) me parece crucial. Eles atuam como uma voz poderosa, influenciando políticas para garantir rendimentos mínimos adequados e sistemas de proteção social robustos (Meta 1.3), o que contribui para a redução da pobreza em suas dimensões (Meta 1.2). E os Médicos Sem Fronteiras (MSF), embora famosos por atuar em conflitos, também fazem um trabalho essencial na Europa, garantindo acesso à saúde para migrantes e outras populações vulneráveis, mitigando uma das privações cruciais da pobreza (Meta 1.2) e fortalecendo a resiliência em contextos de crise (Meta 1.5).
Essa imersão nos leva a considerar algumas ideias mais audaciosas, como o Salário Universal (Renda Básica Universal – RBU), que vem sendo muito discutido, inclusive em fóruns como o World Economic Forum. Eu vejo como essa proposta se alinha com o ODS 1: ela poderia, em teoria, erradicar a pobreza extrema (Meta 1.1) ao garantir um piso de renda, simplificar o sistema de proteção social (Meta 1.3) e dar a todos um acesso mínimo a recursos econômicos (Meta 1.4).
Claro, há vantagens claras: menos pobreza e desigualdade, mais dignidade e autonomia para as pessoas, potencial para melhorar a saúde e a educação, e até um estímulo ao empreendedorismo, já que a segurança financeira pode encorajar riscos. Além disso, penso que o RBU pode ser uma rede de segurança vital para um futuro com mais automação no mercado de trabalho.
Mas também existem desvantagens significativas, e eu não podemos ignorá-las. O custo para implementar um RBU que realmente faça a diferença seria altíssimo, exigindo reformas tributárias radicais e talvez impopulares. Há o temor da inflação, da desvalorização do dinheiro se for injetado em excesso na economia. E a crítica mais comum é o possível desincentivo ao trabalho – será que as pessoas ainda se esforçariam se tivessem uma renda garantida? Não seria também um controle de governo centralizado sobre o cidadão?
E, honestamente, mesmo com todas essas metas e as iniciativas incríveis, a ODS 1 enfrenta críticas bastante pertinentes. Uma delas é a própria ambição excessiva da meta de erradicar a pobreza até 2030. Com pandemias, conflitos e crises climáticas, os ganhos podem ser facilmente revertidos, e a taxa de redução da pobreza extrema tem desacelerado. Outra crítica importante é sobre a definição e medição da pobreza. Aquela linha de US$2,15/dia é realmente suficiente? Muitos argumentam que é muito baixa e que o foco ainda é excessivamente monetário, negligenciando a pobreza multidimensional e a pobreza relativa, que é um problema real mesmo em países ricos.
Eu também percebo que o ODS 1 é criticado por não abordar suficientemente as causas estruturais da pobreza, como a crescente desigualdade de renda e riqueza, que impede que os ganhos do crescimento econômico cheguem aos mais pobres. Há quem diga que não desafia os sistemas econômicos globais injustos ou fatores políticos como a corrupção e a má governança. E, claro, a questão das lacunas de financiamento é um elefante na sala; faltam recursos para os investimentos necessários. Por fim, o princípio de “não deixar ninguém para trás” é lindo, mas alcançar as populações mais marginalizadas (em zonas de conflito, remotas, discriminadas) é um desafio imenso.
Todas essas críticas não invalidam a importância da ODS 1. Pelo contrário, elas servem como um lembrete constante dos enormes desafios e das complexidades inerentes à sua concretização. Elas me fazem ver que precisamos de abordagens ainda mais abrangentes e transformadoras, que olhem além das métricas de renda e ataquem as raízes profundas da pobreza. A ODS 1 é um farol que guia o caminho para um mundo sem pobreza. Embora suas metas sejam claras e inspiradoras, a complexidade de sua implementação e os desafios inerentes à natureza da pobreza exigem uma abordagem multifacetada, contínua colaboração entre governos, setor privado e sociedade civil, e uma constante reavaliação de estratégias para garantir um futuro onde a dignidade seja acessível a todos.
A luta contra a pobreza é uma responsabilidade compartilhada, e cada esforço, por menor que pareça, nos aproxima um passo de um futuro mais justo e equitativo para todos. E você, como pode contribuir para essa causa tão vital?
De nossa parte, estamos elaborando um evento para trazer ideias, conceitos e soluções para fomentar o ecossistema de impacto estadual e apoiar iniciativas que possuem como principal atividade do negócio a solução para questões ambientais, sociais, de inclusão e diversidade buscando o impacto positivo para a sociedade paranaense.
Fique ligado!