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5 de março de 2020Por: Maria Isabel Miqueletto
Não sei vocês, meninas, mas minhas referências da infância/adolescência envolviam filmes americanos, que mostravam jovens no colegial, muitas vezes brigando entre si, traindo umas às outras e disputando os meninos populares. Ou, o mais comum, fazendo tudo para conquistar o título de mais bonita e mais popular.
Isso se estendeu para a vida cotidiana, em frases como “toda mulher tem inveja da outra”, “tome cuidado com suas ‘amigas”, entre outras. Tudo isso para nos ensinar que não existe amizade verdadeira entre mulheres.
E posso garantir que nunca ouvi uma mentira tão grande. Quando descobri a parceria que pode existe entre mulheres, que entendem e compartilham de algumas dores e prazeres por conta do gênero, meu mundo se expandiu. Ser empática com as outras e entender suas experiências sem julgamento me fez ver que isso impulsiona a minha própria vida, a minha própria experiência na sociedade.
Com a sororidade, conseguir perceber que quando eu aceito, valido e apoio outras mulheres, surge esse espiral de força que me inclui também. E crescemos todas juntas.
Por isso foi uma alegria imensa conduzir um projeto especial para a TOPVIEW sobre o tema. Uma oportunidade linda de conhecer mais histórias e exercitar ainda mais a empatia e o entendimento sobre a importância de quebrar padrões negativos e irreais. E, acima de tudo, a relevância de escolher confiar na outra, porque ter confiança em alguém é aceitá-la como ela é e entender que sua experiência é válida.
Comecei minha reportagem especial sobre o tema, para a edição de dezembro da revista, falando sobre as princesas da Disney. Sobre como elas não têm amigas, têm relações ruins com as personagens femininas e estão esperando um príncipe para salvá-las. Os exemplos desses padrões patriarcais estão por aí aos montes. Mas é incrível perceber quantas mulheres estão mudando as regras desse jogo.
Quando comecei o projeto, tinha em mente o que a maioria das pessoas tem sobre sororidade: não julgar outras mulheres por razões relacionadas ao gênero, apoiá-las, incentivá-las e, com isso, destruir a rivalidade feminina.
Mas o tema se abriu para mim assim que as entrevistadas começaram a fazê-lo. A cada história pessoal ou a cada especialista que me explicou as teorias de filósofas feministas, a sororidade ia se transformando em um universo vasto e cheio de possibilidades.
Percebi que o ato de ouvi-las, validar suas experiências e, acima de tudo, dar espaço para que elas falassem por si só, sem mediação, era a prática desse conceito às vezes tão genérico e confuso.
Quando mulheres se unem, todas caminham
Uma voz é só uma voz, mas várias vozes são uma multidão. “Quando uma mulher se levanta, outras se levantam com ela”, comentou comigo a Suelen Matos, designer e convidada para um dos painéis do evento do Impact Women, que vai ser realizado no dia 19 deste mês de Fevereiro. Essa frase sintetiza a minha visão sobre a sororidade.
Conversei com dezenas de mulheres, de várias áreas diferentes, que me fizeram perceber como a sororidade vai muito além do que comumente imaginamos e perpassa diversos outros temas importantes. Empatia, diversidade, aceitação, respeito, humildade, gentileza… e por aí vai.
Além disso, elas me mostraram que a sororidade pode estar em tudo, nas pequenas atitudes do cotidiano. Luci Collin, escritora curitibana, me encantou com suas ideias de como ler e consumir conteúdos produzidos por mulheres é praticar o conceito, é dar espaço para que elas existem, muitas vezes em áreas que são hostis à presença feminina.
Marlene Tamanini, professora do programa de pós-graduação em sociologia e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal do Paraná, pontuou como a sororidade vai muito além de ser solidária com a vizinha ou amiga por sermos mulheres — é uma ferramenta de emancipação. E, portanto, é preciso tomar sua dimensão política e cobrar o Estado. Tema que será tratado no segundo painel, também no encontro na quarta, 19/02.
Mulheres do mundo, unam-se”
Esse slogan foi usado na década de 1960,
na época em que Kate Millett, escritora e ativista feminista, propôs o termo sororidade para mostrar a importância da luta diária das mulheres — e como a união poderia fortalecê-las. Desde então o movimento das mulheres trouxe muitas conquistas para a população feminina. O direito ao voto, ao acesso à educação, o desmanche da esposa como propriedade do marido, entre outros.
Por mais que o termo remonte aos anos 1960, a ideia em si já existem há séculos. Ana Paula Vosne, professora de história e também pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero da UFPR, ressalta a união das mulheres nas comunidades evangélicas do século 17 e 18, que transpassou as fronteiras da religião e atingiu os movimentos sociais e políticos, como o abolicionista, que lutou pelo fim da escravidão
A frase Everything is political when you are a woman se espalhou pelo Instagram, lembrando os ideais do movimento feminista radical. As relações interpessoais também o são. Por isso a maneira como você trata as mulheres reflete muito na maneira como você vai ser tratada. Decidir apoiar ao invés de julgar, aceitar ao invés de invalidar, é revolucionário — e vai nos conduzir para uma sociedade com mais equidade, respeito e dignidade para as mulheres.
Companheira me ajude que não posso andar só/Eu sozinha ando bem/mas com você ando melhor foi o som que embalou manifestações ao redor do país e resume a potência de milhares de mulheres unidas, confiando uma na outra, em prol da conquista de direitos e melhoria para a vida de todas. É a beleza e a força da sororidade.
> Leia a matéria especial completa no site da TOPVIEW:
“Mulheres do mundo, unam-se”: um guia de sororidade”
“Eu e ela: como minha filha me despertou para a sororidade”
“Sororidade como potência revolucionária”:
“Avós, cigarras e sucrilhos: notas sobre sororidade”
“As dimensão da sororidade: as poesias de Luci Collin”
>> EVENTO IMPACT WOMEN SORORIDADE COM TOPVIEW | 19/02/2020
Sobre Maria Isabel Miqueletto
Jornalista graduada pela UFPR, estudou Conteúdo para Novas Mídias no Instituto Politécnico de Coimbra, em Portugal. Já trabalhou nas empresas Gazeta do Povo e Nex Coworking, hoje é repórter da revista TOPVIEW. É autora do livro digital Cientistas: feminino e plural, que debate a invisibilidade das mulheres na história e reúne perfis de cientistas pioneiras. Vê o ato de ouvir e contar histórias de mulheres como uma prática da sororidade.